sexta-feira, 18 de junho de 2010

OS CÃES LATIRAM QUANDO DISSERAM, SARAMAGO MORREU!

Por não ter retornado às instalações da Câmara não posso afirmar se a sugestão de ontem foi acatada por quem manda na Casa. Poderia saber sem ter ido, bastando telefonar, enviar e-mail, perguntar a quem ali esteve. Caso o televisor de l4 polegadas não tenha sido substituído por um mais moderno, o nível dos jogos da Copa serve de argumento irretorquível aos que deram de ombros à sugestão. Irão dizer ser muita tecnologia para pouco futebol. E o ombudsman do Legislativo irá concordar. Disse no panfleto que Copa do Mundo e Copa do Brasil se assemelham. Exemplifiquei. Um Ji-Paraná contra um Naviraiense pode oferecer emoções mais fortes que um Estados Unidos e Eslovênia. E que o rádio passa a ser o veículo ideal para tais espetáculos. E movido a energia gerada pela bateria. O narrador pode ser o Marcos Teixeira.

Dois cachorros, um rengo, latiram quando a rádio disse que José Saramago morrera às 8h da manhã de hoje, numa ilha paradisíaca, onde enfrentava uma antiga enfermidade, na Espanha. Se não fosse o Jacy ganhar cinco destas emissoras do governo Sarney eu iria saber do óbito só a noite e por outros canais. Scanagatta é cultura. Só li, na íntegra, um livro dele, Jangada de Pedra, tido como o primeiro do Prêmio Nobel de Literatura de l998. " Quando Joana Carda riscou o chão com a vara de negrilho, todos os cães de Cerbère começaram a ladrar, lançando em pânico e terror os habitantes, pois desde os tempos mais antigos se acreditava que, ladrando ali animais caninos que sempre tinham sido mudos, estaria o mundo universal próximo de extiguir-se". Não é apenas na abertura do livro em que os cachorros são metáfora. Eu gosto de cães. Se vira-latas, mais ainda. Onde estacionei, há em abundância. Muitos morrem atropelados. Um centro de zoonozes seria a solução. Ou o paliativo. Gosto de vê-los livres. Uma cadela no cio é melhor que um Clio. O perigo é os mais puritanos acharem aquilo um ato obsceno e usarem veneno. Os dois que latiram ao saber que Saramago findara foram abandonados pelos antigos tutores. São meus filhos adotivos. O escritor português deixou um legado digno de um operário das letras. Quando Ziraldo Alves Pinto relançou o Pasquim em forma de revista, Saramago deu uma canja no Brasil, sendo pauta de Bundas, em agosto de l999. Frases pinçadas das respostas que o Nobel ofereceu às indagações anárquicas: " Uma língua que não se defende, morre"; "O escritor é uma espécie de bobo da corte"; "Cada vez me interesso menos por falar sobre literatura"; " O Nobel é o único mito cultural deste século"; " Não sei se tão cedo haverá outro Nobel para a língua portuguesa"; " Sempre fui uma pessoa ensimesmada e continuo a ser um melancólico"; " Vida de rico só é chata às vezes. Vida de pobre é chata sempre"; " A porta do Brasil abriu-se para mim com duas linhas do Millôr".

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